terça-feira, 10 de agosto de 2010

Relação intima entre fé e teologia

Há entre a fé e a teologia uma relação interna ou orgânica, e não meramente exterior ou mecânica. Há continuidade vital entre essas duas realidades, e não mera justaposição.

Poderíamos aqui usar muitas metáforas. Assim, a fé é para a teologia:

• como a seiva para a árvore;
• como a fonte para o rio;
• como o fermento para o pão;
• como a alma para o corpo;
• como o punho fechado para a mão espalmada.

A teologia é a fé mesma que se vértebra, a partir de dentro, em discurso racional. É o desdobramento teórico da fé. É seu desabrochamento intelectual. Teologia é fides in statu scientiae (a fé em estado de ciência). É o pathos que toma a forma do logos, a experiência que se faz razão. É a sabedoria no modo do saber.

A teologia não acrescenta materialmente um pingo de luz à fé. Desenvolve apenas seu conteúdo material. Desdobra suas virtualidades latentes. É a ratio estendendo o intellectus: a razão explanando a intuição. Portanto, a fé é como a enteiéqueia da teologia, isto é, sua forma dinâmica interna. É seu conatus, sua alma viva e inquieta. Eis o que diz Clemente de Alexandria (ca. 150), diretor do primeiro instituto de teologia, o Didaskaleion: A fé é, por assim dizer, um conhecimento elementar e concentrado das coisas necessárias. A gnose (= conhecimento teológico), por sua vez, é a demonstração firme e segura do que se recebe na fé. Ela se edifica sobre a fé, por meio do ensinamento do Senhor, e conduz a uma indefectível posse intelectual.

Como se vê, a teologia como discurso se distingue do discurso da fé, tal a confissão. Dá-se entre as duas certa ruptura – uma ruptura no nível da forma, especificamente da linguagem. A teologia é mutável, diversificada, enquanto a fé tem um caráter absoluto, definitivo. Isso tudo é verdade no plano da forma. Contudo, no do conteúdo, há profunda continuidade. A substância viva da teologia é a própria fé. A teologia não diz outra coisa que a fé, só o diz de outro modo. Non novum sed nove: não diz coisas novas, mas as mesmas coisas perenes da fé, mas de modo diferente.

Por isso tinha razão Tertuliano ao dizer: Nós não temos curiosidade depois de Jesus Cristo. Nem temos necessidade de investigar depois do Evangelho. Quando cremos, não sentimos falta de outras crenças, pois a primeira coisa que cremos é que não há outra coisa para crer. S. João da Cruz não diz outra coisa: “Ao dar-nos, como nos deu, o seu Filho, que é a sua única Palavra – e não há outra –, (Deus) disse-nos tudo de uma vez nessa Palavra e nada mais tem a dizer.”

A fé implica dentro de si a teologia; e a teologia explica, como que para fora, a fé recolhida em si mesma. Na fé encontramos uma teologia implícita e na teologia, uma fé explícita. As razões teológicas se relacionam com a fé não ao modo da “substituição” ou da “diminuição”, mas ao modo da “adição”. Elas se acrescentam orgânica e formalmente à convicção da fé. A teologia é a fé crescendo na inteligência.

Fonte:Metodista

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